7 de junho de 2009

Vamos votar

Eleições para o Parlamento Europeu, para a Assembleia da República e para as autárquicas - três juntas podem não ser seis bois (5)

1. Trinta e cinco anos após...
2. Três eleições numa?
3. Votar para a Assembleia da República.
4. Votar para o Parlamento Europeu

5. Votação para as Autárquicas: no Porto, por exemplo

Para a Câmara do Porto a eleição parece jogar-se entre Rui Rio e Elisa Ferreira, cabeças de cartaz dos dois maiores partidos. Tal como os outros dois candidatos cabeças de cartaz, Rui Sá e João Teixeira Lopes, são candidatos do campo liberal (em contraposição ao campo absolutista, que não apresenta candidato próprio). Liberal tem sido a tradição da cidade.
De Rui Rio dizem os cartazes que tem os dois pés no Porto. Não especificam onde está a cabeça, sendo que agir com os pés não é propriamente aconselhável. Enfim, é melhor presidente da Câmara do que já foi. O seu mundo, de facto, já não acaba no Porto, como parecia acabar, no primeiro mandato. No segundo mandato, o candidato ganhou a noção de que o Porto faz parte de uma região mais vasta que o Concelho ou mesmo a área metropolitana e que é ao nível desse território que o destino da Invicta Cidade tem de ser equacionado. Parece hoje ser um adepto da regionalização. Moderou a perseguição à cultura, à alegada subsídio-dependência da cultura, no segundo mandato. Também mais moderada parece estar a penetração La Féria. Apoiantes seus afirmam que ao acabar com os subsídios fomentou a movida e a vida cultural na cidade. Estranha relação de causalidade. Foi a dinâmica dos privados e dos municípios limítrofes e intervenções do estado central que salvaram a cidade do marasmo cultural.
O edifício transparente, herança socialista, finalmente teve um destino. Ficou mais preenchido e menos inútil. A Avenida da Boavista foi convertida numa auto-estrada cinzenta ('sizenta'), entre o parque da cidade e o Castelo do Queijo, para a corrida de automóveis. As árvores migraram do meio da avenida para os passeios, dificultando o trânsito aos peões e ensarilhando-se com as árvores do parque e das casas particulares, que bordejam a avenida. Semáforos foram instalados para parar os ímpetos automobilistas causados pela nova auto-estrada. Os aviões colocaram a cidade nas televisões. O rodeo é uma aculturação cujo contributo para afirmação da cidade pouco se entende. Interveio (bem e mal) na baixa. Moderou a perseguição aos arrumadores. Interveio (bem e mal) nos bairros sociais. Em alguns casos melhoraram as condições, em particular, de segurança, dos seus habitantes. Nos bairros sociais, o Partido Socialista local pouco ou nada fez, quando governou a cidade.
Os consensos com o Partido Socialista foram à “Liliput”, das Viagens de Gulliver. A saída do túnel de Ceuta junto ao museu Soares dos Reis é disto exemplo. Aliás, o caso túnel de Ceuta foi encarado pelo autarca como um bom evento para a comunicação social consumir.
Rui Rio conquistou o povo e entrou pela classe média. Não vai ser fácil, para Elisa Ferreira, esta eleição. Não vai ser fácil, pela nulidade que foi o Partido Socialista na cidade, estes anos de oposição. Não vai ser fácil, porque nem o eleitorado tradicional do Partido Socialista é garantido. O nome e, num certo sentido, também a postura fazem lembrar a Ferreirinha. Dona Antónia Ferreira, mulher determinada. Mas vai ser preciso bem mais do que uma coincidência de nome. Acresce que a candidata informou os eleitores nacionais que não vai para o Parlamento Europeu, caso ganhe a eleição para a Câmara do Porto, e os eleitores locais que não fica na Câmara do Porto, caso perca esta eleição. Ou seja, para além dos eleitores serem confrontados com estas contingências, caso a candidata perca a eleição para a Câmara do Porto, o Porto já sabe que Elisa Ferreira não ficará a liderar a oposição a Rui Rio, a propor um projecto para a cidade, para daqui a quatro anos.
Que nos oferecem os cinco grandes deputados / partidos nesta escala? Quatro bons candidatos, o que é alguma coisa. Em quem votar? É difícil a escolha, mas não parece ser repetitiva ou inconsequente. Escolha-se, mas pense-se, fundamentalmente em exigir mais representação, dos nossos representantes, e maior transparência nos processos locais de decisão. Exija-se aos candidatos orçamentos participativos. Exija-se que as árvores voltem para o meio da Avenida da Boavista, criando um corredor verde do Castelo do Queijo à Rotunda da Boavista, corredor que ainda está na memória da cidade. Exija-se aos candidatos circuitos para bicicletas. Exija-se política urbana, ao nível do que bom existe por essa Europa fora. Exija-se cultura e identidade, ambiente e espaços de lazer. Exija-se uma visão do Porto cosmopolita, supramunicipal, regional, nacional, europeia e mundial, que coloque o simbolismo e atracção do Porto ao serviço da competitividade do País.

Porto 2 de Junho 2009

6 de junho de 2009

Eleições para o Parlamento Europeu, para a Assembleia da República e para as autárquicas - três juntas podem não ser seis bois (4)


1. Trinta e cinco anos após...
2. Três eleições numa?
3. Votar para a Assembleia da República.

4.Votar para o Parlamento Europeu
Na Europa as coisas não estão melhores. Mais uma vez, a escolha dos portugueses nas eleições europeias resume-se, essencialmente, aos cinco grandes deputados (cabeças de cartaz) / partidos do costume. É certo que os deputados europeus portugueses, cabeças de cartaz ou funcionários partidários eleitos por arrastamento, são mais livres na Europa, pois estão mais longe das respectivas lideranças partidárias. Mas acontece que isso não os coloca mais próximo dos seus eleitores. Pelo contrário, convenceram-se que a Europa só pode ser construída nas costas dos cidadãos. Converteram em acto de coragem o agir contra a opinião pública. As eleições para aprovar tratados repetem-se em cada Estado-Membro, quantas vezes for necessário, até obter o resultado desejado. E assim se esvazia a Europa de sentido. São a favor da Europa os Estados-Nação quando recebem fundos e contra quando pagam.
Os interesses jogam com os Estados-Nação e os seus egoísmos para levar à sua avante. E levam. A miopia é tão grande que poucos entendem o quão essencial é à paz mundial a adesão da Turquia à U.E.. Areia cultural e religiosa é lançada para os olhos, quando o problema é ninguém querer pagar a factura. A factura da adesão da Turquia. A seguir, quiçá, Israel, Palestina, Norte de África, territórios que fizeram parte do império romano, também deveriam aderir, a bem da paz mundial! A nossa experiência histórica de Nação diz-nos que Portugal foi grande quando fez conviver no seu território Cristãos, Islâmicos e Judeus, num projecto comum – Os Descobrimentos. E decaiu quando se tornou xenófobo e persecutório.
Que nos oferecem os nosso cinco grandes deputados / partidos nesta escala? Pouco. Em quem votar? É difícil a escolha, porque repetitiva e de alguma forma inconsequente. Escolha-se, mas pense-se, fundamentalmente, em exigir mais representação, dos nossos representantes, e maior transparência nos processos europeus de decisão. Nesse sentido, porque não exigir que a cabeça da Comissão Europeia seja directamente eleita (o presidente e dois vice presidentes, um para os negócios estrangeiros e outro para a economia). Talvez isso contribuísse para ultrapassar o fenómeno dos egoísmos nacionais nos processos europeus de decisão. Exigir também o aprofundamento das ligações entre o Parlamento Europeu e os parlamentos nacionais, para que os temas nacionais sejam discutidos nas suas dimensões europeias e vice-versa.
(continua)

Eleições para o Parlamento Europeu, para a Assembleia da República e para as autárquicas - três juntas podem não ser seis bois (3)

1. Trinta e cinco anos após...
2. Três eleições numa?

3. Votar para a Assembleia da República
O País será chamado, mais uma vez, a pronunciar-se, a votar para a Assembleia da República. As escolhas vão ser, mais uma vez, entre os cinco grandes deputados / partidos (alguns maiores do que outros). Cinco grandes deputados constituem um leque de escolha mais vasto do que aquele que tínhamos há trinta e cinco anos (apenas um grande deputado, pré e auto escolhido). Temos de exigir mais, como cidadãos nacionais, se de facto queremos desenvolver o País. A Democracia em Portugal já não é uma criança ou um adolescente. Tem trinta e cinco anos.
Que nos oferecem os nossos cinco grandes deputados / partidos nesta escala? Muito pouco. Em quem votar? É difícil a escolha, porque repetitiva e inconsequente. Escolha-se, mas pense-se, fundamentalmente, em exigir mais representação dos nossos representantes e maior transparência nos processos nacionais de decisão. A estabilidade política não está na maioria absoluta. Se os deputados, de facto, nos representassem, estaria em nós, eleitores.
(continua)

Eleições para o Parlamento Europeu, para a Assembleia da República e para as autárquicas - três juntas podem não ser seis bois (2)

(1. Trinta e cinco anos após...)

2. Três eleições numa?
Três eleições numa? Não, mas suficientemente juntas para se entender que não são três actos independentes, que se articulam uns com os outros, que decidimos, em cada um deles, facetas da nossa vida colectiva que se colocam em diferentes escalas.
Trinta e cinco anos após a instauração da Democracia as escalas continuam a ser apenas três no Continente (país, concelho e freguesia), quando deveriam ser cinco. Ou seja, com a excepção das Regiões Autónomas dos Açores e Madeira, não nos podemos pronunciar, democraticamente, enquanto colectividades regionais. E todavia, com a globalização, as regiões são objectivamente as plataformas de articulação de cada País à economia mundial. A equação dos problemas nacionais, sem a presença destes territórios regionais, é uma equação distorcida, tendencialmente centrada na região da capital, e conduz a más utilizações dos dinheiros públicos, obras públicas sem sentido, más localizações de aeroportos (por exemplo), prioridades nacionais erradas, etc. Também não nos podemos pronunciar, democraticamente, enquanto colectividades. E, todavia, são cada vez mais sentidas as necessidades de articulação supramunicipal, por exemplo, nos eventos culturais, nos investimentos municipais, etc. Estes territórios são também os mais propícios à contratualização de competências à sociedade civil, a uma participação cidadã mais intensa, a novas formas de exercício dos poderes do Estado, na Sociedade em Rede ou da Informação em que vivemos, a novas formas de equacionar e implementar as políticas públicas.
Em Portugal estes dois níveis - regional e supramunicipal são ocupados de forma caótica pelo poder central e, menos, pelo poder local. O facto limita o exercício do princípio da subsidiariedade europeu. Ou seja, em Portugal, tudo o que não pode ser resolvido ao nível do concelho ou da freguesia tem de ser (mal) resolvido ao nível central.
Acreditamos que o problema passa pelas elites portuguesas e pela concepção provinciana e retrógrada que estas têm do poder político. Do despotismo iluminado de Pombal passamos ao despotismo apagado, intercalado de eleições, do Portugal pós 25 de Abril. Pelo caminho tivemos, entre outras, a personagem sinistra de Santa Comba Dão.
Nestes trinta e cinco anos o País não se livrou da cultura da cunha. Pelo contrário, democratizou-a. Em simultâneo, do ponto de vista organizativo desconstrói-se diariamente. Na produção promovem-se hierarquias retóricas, destituídas de sentido, e, no seio das ditas, promovem-se os incompetentes. O País não se livrou dos jogos de influência, da areia lançada para os olhos, dos 'chico-espertos', das sociedades secretas, dos interesses (também corporativos), etc., sendo que ganhou novas formas de caciquismo. Na aldeia global, as lideranças partidárias portuguesas constituem os caciques mais visíveis do País na actualidade. Parolas, vivendo em Cascais, Lisboa, ou arredores, reduziram os deputados a funcionários partidários e converteram os espaços entre eleições em ditaduras de maioria, com muitos soundbites. Quanto aos deputados, funcionários partidários, a última coisa que desejam é sujeitar-se a uma verdadeira eleição (nominal?). Estão bem como estão. Não nos querem representar, a nós eleitores. Preferem, comodamente, representar as respectivas lideranças.
(continua)

5 de junho de 2009

Eleições para o Parlamento Europeu, para a Assembleia da República e para as autárquicas - três juntas podem não ser seis bois (1)

1. Trinta e cinco anos após…
Trinta e cinco anos são passados desde a instauração da Democracia em Portugal. Trinta e cinco anos antes de 1974 estávamos em 1939. O mundo assistia à invasão da Polónia pelas tropas de Hitler, invasão que deu início ao maior conflito armado da história da humanidade. Do conflito surgiu uma nova ordem mundial e iniciou-se o processo de globalização, que hoje vivemos, processo que se acentuou com o fim da guerra-fria, na década de 90 do século passado.
O mundo e Portugal mudaram, imenso. O País saiu, em 1974, das “cavernas” e ainda não se adaptou ao modo de vida que a União Europeia lhe proporcionou. Grosso modo, consumimos melhor do que produzimos. Em simultâneo, o mundo exige de nós uma sociedade que durante muitos anos não pudemos ser e ainda não somos. Encantados com o consumo não cultivamos nem memória colectiva, nem outro tipo de relações com o próximo. Projectamos mal as nossas identidades: locais, regionais, nacionais, europeias, lusófonas. De costas para o futuro observamos o dito futuro quando este já é presente, ou mesmo passado, um fado que parece não estar nas nossas mãos.
O dinheiro enriqueceu-nos mais o bolso do que a cabeça. Culturalmente continuamos muito parolos, pouco cosmopolitas, sendo que temos vergonha do que fomos (e que ainda nos marca) e compreendemos e reproduzimos mal os modelos de vivência que importamos da Europa. Ou seja, ainda recalcamos a nossa identidade de País, que associamos à miséria de outros tempos, em nome de uma identidade mais moderna, mais rica em bens de consumo, que a União Europeia (U.E.) nos trouxe e que compreendemos mal. Como o entendimento é curto, comportamo-nos como autênticos papalvos nas várias facetas da vida social. Por exemplo, nas Obras Públicas a coisa tem é que ser grande. É mais importante ser grande do que útil, porque o importante é dar nas vistas. Dar nas vistas e também dar dinheiro dos contribuintes aos interesses: a maior ponte da Europa, o maior lago artificial da Europa, o maior aeroporto ?!.., etc. Tudo isto num País que, para muitos dos interesses que o tolhem, é, convenientemente, demasiado pequeno para ter regiões. Areia lançada para os olhos. Portugal é uma grande nação da Europa. Geograficamente, não é um todo homogéneo, tem unidades regionais, no seu território, de dimensão semelhante às regiões de outros países da U.E. Acresce que o pequeno, especialmente em Portugal, é bonito, pode ser inovador, cosmopolita, competitivo, coeso, socialmente útil, numa palavra, democrático!...
(continua)

4 de junho de 2009

Rebatismo* e crisma

Para dar a volta, ENZIMA.

O nosso blog tem (tinha) um nome muito chocho. Muito “cota”. Temos que fabricar uma melhor designação. Fazer outro baptismo. Sem ser preciso consultar o Luís Afonso, que tem mais que fazer. Ora as iniciativas que a APRIL desenvolveu 1987 e 2007 – incluindo as que não deram certo – revelam que foram sustentadas por um “caldo enzimático”, que exigia que nunca fosse servida “comida requentada” ou de dieta, seguida de sobremesa espartana. Não muitos comensais à mesa, é certo mas encheram bem a barriga. E por vezes, até se riam.

Ponderando assim a sua anterior estória, resultou um diagnóstico: “Seria vocação da APRIL intervir no espaço social como se fosse uma enzima”. (Nuno Grande)

E assim fica o blog crismado:

ENZIMA

Enzima será com certeza mais um objectivo a atingir, do que uma realidade apta à partida. Lá chegaremos. E se não chegarmos, bem tentámos. Podem crer que bem gostaremos de ter tentado.

[Enzima (Química – Enciclopédia Focus) - Fermentos catalizadores específicos que ocorrem em células e tecidos vivos e permitem a realização da maior parte das reacções químicas no organismo, sem elas próprias serem consumidas. As enzimas catalizam reacções de formação ou destruição de compostos químicos. Todas as enzimas na forma pura são proteínas.]

Rui Oliveira

* Rebatismo = rebaptismo de acordo com o acordo ortográfico de 1990.

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